quarta-feira, agosto 03, 2005

Julho de 2005

Crise

Está uma crise muito grande para quem comercializa produtos alimentares. É o IVA que aumenta, é a seca que dá cabo das colheitas, e agora, como se não bastasse, o Rochemback está a fazer dieta.

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Cá Estão Eles!

Que significado terá o ter de se ir buscar políticos (quase) fora do activo há mais de uma década, para assumir os mais altos destinos da nação? Quererá isto significar que nestes últimos anos a política Portuguesa não viu surgir ninguém que sirva?

Como se sentirão as centenas de políticos, actualmente em funções em Portugal, com a convocatória de Mário Soares e de Cavaco Silva para o desafio de Belém? - para além de inchados, e acomodados, claro - Frustrados? Ofendidos? Ou, em bom Português, como a merda que são?
Uma coisa eu garanto: se o Badaró alguma vez voltar ao activo, eu desisto e emigro de vez!

O que é facto é que eles aí estão, o bochechas e o professor Aníbal! Um com mais pontos “Navigator” da TAP do que Deus-todo-poderoso; o outro, em tantos anos de treino diplomático, ainda não aprendeu a mastigar de boca fechada.
Não há dúvidas de que Mário Soares foi (é) um grande estadista, e com coragem para dizer coisas incómodas. Por outro lado, o termo de comparação é Jorge Sampaio…
Mas também o Sr. Engenheiro «Socras» seria muito beneficiado com a eleição do avô da democracia portuguesa - poderia virar-se para os 700 mil funcionários públicos e dizer-lhes: estão a ver como tenho razão? Querem vocês reformar-se aos 55 anos! Vejam o exemplo do nosso Presidente! O velhote tem mais de 80 anos e continua no activo!

Quanto ao professor, o que é que o move? O que é que um homem que assumidamente tem tanto de politico como aquele animal do Marco de Canaveses quer ir fazer para um cargo exclusivamente politico? Equilibrar o jogo de forças? Resgatar o PSD? Aprender a estar à mesa?

Giro era que o poeta Manuel Alegre se candidatasse mesmo e vencesse. E já agora, que os D’zrt fizessem alguma coisa com qualidade.

O que vale é que mais candidatos aparecerão. Alberto João Jardim, candidato do partido ecologista “os vermelhos”; Luis Campos e Cunha, pela segurança social; Freitas do Amaral, pela Al-Qaeda.

Ainda há esperança!

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Mais Bola: Pré-Época

Afinal o jogo de apresentação do Benfica no Estádio da Luz vai ser contra a Juventus e não contra a Roma, como estava anunciado. Ou seja, afinal o Miguel vai mesmo voltar à Catedral. É capaz é de ser com outra camisola.

O Benfica fez um jogo de apresentação com o Chelsea e perdeu. Era muito difícil ganhar, porque o Mourinho raramente perde e o Benfica raramente ganha. O golo foi do Ricardo Rocha. Não se pode considerar propriamente um auto-golo porque o Ricardo Rocha ainda não sabe bem se é ou não do Benfica.
O fantasma de Trapattoni ainda se faz sentir porque graças ao italiano eles jogaram com menos um avançado. Luís Filipe Vieira e José Veiga tinham prometido apresentar dois nomes de nível internacional, mas o Tomasson pirou-se para o Estugarda e o Toy estava rouco e teve que cancelar o concerto. Agora o Benfica vai ser obrigado a comprar um avançado começado por TOMAS porque as máquinas já tinham estampado estas letras em 30.000 camisolas.

Acho que o Tomasson preferiu o Estugarda ao Benfica, porque se formos a ver bem, em termos de quilómetros, Estugarda é mais perto da cidade natal do dinamarquês que Lisboa. Além disso, a equipa alemã está na Taça UEFA e o Benfica precisa de ficar em terceiro do grupo da Liga dos Campeões para ter hipóteses de ir à UEFA. Ele foi pelo mais seguro. Ele disse que optou pelo Estugarda porque tinha melhor feeling que em relação ao Benfica. Isso acho que até em relação a um rato morto se tem melhor feeling. Mas claro que a minha opinião pode estar influenciada pelo facto de eu não simpatizar com o clube.

José Mourinho esteve na luz e ainda estava chocado com o atentado em Londres e disse: Isto mostra como somos insignificantes. Mostra que se calhar não somos os super-homens divinos com poderes extraterrestres e imensa pinta que julgamos ser.

O Benfica também está a equacionar vender o nome do estádio da luz.
Aliás, soube em primeira mão qual o novo nome da Luz: Estádio da APAF.
Se o Sporting fizer a mesma coisa tem duas marcas de sanitários à bulha. Ou vai se chamar Estádio Valadares ou Arena Sanitana!

O Sporting tem uma política de contratações estranha, anda a contratar jogadores para o banco - Labarthe, Tonel, Luís Loureiro - O Peseiro devia estar a sentir-se lá sozinho e mandou comprar malta para lhe fazer companhia.

O Rochemback tem uma nova alcunha no balneário: é o Capitão Iglo. Com o que ele come, os colegas estiveram na dúvida entre Capitão Iglo, Major Findus ou Coronel Pescanova! Acabou por ficar Capitão Iglo porque o Rochemback tem, precisamente, a forma de um iglo.

No Porto Jorge Costa saltou de pára-quedas a 4.500 metros de altura. “É um sonho que eu tinha desde pequenino e que agora concretizei” – disse ele. Que pena ele em pequenino não ter sonhado que queria ser kamikaze.

Assim como o Sporting, o Porto também tem uma política de contratações estranha em vez de reforçar a equipa reforça a lista de dispensas. Eles lá no Dragão parecem uma gaja nas compras. Farta-se de comprar tralha que depois nunca chega a tirar do armário.

O primeiro chuto certeiro do FêCêPê foi dado no rabo do Léo Lima. (Pus «rabo» na frase para agora fazer um trocadilho com «rabo ao léu» e o post ficar com um colorido revisteiro). Esta dispensa afinal parece que não se deveu problemas disciplinares, mas sim, problemas físicos, que motivaram esta dispensa. Depois dos últimos treinos dados pelo holandês, o brasileiro apresentava sinas de uma rotura de esforço ao nível dos tímpanos.
Mas parece que a primeira e única vez que o Leo Lima correu no estágio do FCP foi mesmo quando o Adriaanse o pôs a andar dali para fora.

O novo Ronaldinho do Futebol Clube do Porto, Anderson voltou para o Brasil porque a FIFA proibiu a transferência pois os jogadores menores de dezoito anos não podem assistir ao Jorge Costa a falar.

A namorada de Pinto da Costa deu uma festa de despedida de solteira porque já pode casar com o presidente portista. Pois. Parece-me que a Carolina está a pressionar para renovar. Claro que Jorge Nuno ainda pode alegar que ainda está no período experimental.

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Paradoxo

Há um paradoxo que desafia toda e qualquer compreensão humana, uma verdade incontestável mas inexplicável, que há alguns anos desafia cientistas, psicólogos, psiquiatras, sociólogos, teólogos, etc., até a profissionais da credibilidade do professor Bamboo. Senhores e senhoras, essa criatura maravilhosa, o benfiquista* ateu!!!
Como é isto possível? Como é que alguém pode não acreditar em Deus (pai todo poderoso, omnipotente, entre outras), e acreditar no Benfica?

Não é difícil conceber um adepto do SLB. Aliás, a imagem vem imediatamente à cabeça – homem de meia idade, de cabeleira farta, escura e encrespada, bigode da mesma, com hálito a alho, tendência para falar ligeiramente acima do volume de uma turbina de avião, e empregado em sectores como a construção civil ou os transportes.
O Benfica, aparentemente, já ganhou muitos títulos (não posso garantir, porque sou muito novo), o seu (num sentido muito lato) estádio é impressionante, a camisola até não á feia (pelo menos quando comparada com os coletes reflectores), tudo razões de sobra (para além de substancias ilícitas) para que existam Benfiquistas.

Não é difícil conceber um crente em Deus.
O fascínio é quase irresistível – toda a gente fala Nele, nunca ninguém O viu.
Tem-se acesso indiscriminado a coisas verdadeiramente prodigiosas, como o reset espiritual (nada melhor, depois de uma semana em que roubámos, violámos e assassinámos um menor, e votámos Manuel Monteiro, do que uma confissão, para ficarmos outra vez a zeros!), a saudação da paz (tirando os casos em que estejamos entre o António Calvário e a Odete Santos), os feriados Nacionais…
Além disso, aos Domingos de manhã não dá nada de jeito na televisão.

Ou seja, um Benfiquista crente em Deus, isso percebe-se. Transita entre catedrais. Transita entre o além e o aquém. Nunca leu o que Hitler ou Marx escreveram sobre as massas (não vinha n’”A bola”, nem no “24 Horas”…)

Um bocadito mais difícil é explicar o ateu.
Que espécie de cretino é capaz de não acreditar em algo que nunca ninguém conseguiu provar? Onde é que estava esta gente, quando (há uns milhõezitos de anos) nos explicaram que os relâmpagos, as chuvas (e mais recentemente, o tsunami) eram obra de Deus? Quem é que lhes dá o direito de acreditar nas explicações lógicas e racionais que a porcaria da ciência arranja (qualquer dia ainda dizem que a Terra gira em torno do Sol)? Ai, inquisição, inquisição…
Mas também isto se aceita, da mesma maneira que tem de se aceitar um vegetariano, ou o Tino de Rans.

Chegámos, pois, a essa equação sem resolução, a esse mapa sem trilhos, fronteiras ou coordenadas, a esse Alberto João Jardim sem papada: o indivíduo que se recusa a acreditar em Deus, mas que segue o Benfica religiosamente.

Como é que o discernimento lhe assiste numa escolha, e o cega noutra? Qual é o fenómeno mental (já não digo a substância, porque essa, de facto, existe) que explica que uma pessoa tenha a liberdade e autonomia intelectuais para escolher não olhar para o céu, mas que não consiga resistir olhar para a relva? Que tipo de animal é esse que tem como mentores, lado a lado, Nietzsche e Luís Filipe Vieira?

O Benfiquista ateu figurará para sempre nos anais (ora cá está uma palavra tão em voga, no mundo artístico e da política!) da história, a par de outros mistérios insondáveis, como o triângulo das bermudas, o Santo Sudário, ou o sucesso do Toni Carreira.


*Foi escolhido o “benfiquista” apenas a título exemplificativo podendo ter sido utilizado um adepto fanático de qualquer outro clube.

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Euromilhões

É incrível como um dos países mais pequenos da Europa, com uma das populações menos numerosas, consegue ser o país em que mais gente procura o euro pote no fim do arco íris. Podemos não ter os melhores índices de produtividade e de crescimento económico, mas em fé e calculo de probabilidades, somos tão imbatíveis como os penteados do Toy.

Os outros países Europeus deviam saber em que é que se iam meter, ao juntarem-se a Portugal numa lotaria Europeia. Eles não sabem como é que têm sido os nossos últimos anos de governação? Eles não viram já a maneira como os Portugueses conduzem? Não terão percebido que nós somos um povo que se rege pela sorte?

E merecemo-la! Quanto mais não seja, pela nossa ingenuidade!
Adoro as respostas que o povão dá, quando se lhes pergunta o que faria com x milhões de Euros - “ah…arranjava a minha casita…”; “tirava a carta de mota”; “comia uma tosta mista…”, se isto não fosse tão idiota, era adorável.

O estado Português devia também começar a apostar no Euromilhões. Comparando com as necessidades do nosso país, o prémio pode não ser muita fruta, mas sempre dava para sustentar dois ou três ministros, pelo menos até o FC Porto ter um novo treinador.

Talvez até jogar em sociedade, como tanto se faz por aí. Dava uma notícia gira: “o prémio do euromilhões desta semana saiu a Portugal, e ao senhor José Ramos, de Aljustrel”.
O pior era se o estado fizesse como quase todos os totalistas do euromilhões, e desaparecesse. E daí, talvez nem se notasse a diferença…

Mas quanto a fé, ainda temos muito que aprender. Veja-se o exemplo desse Brasileiro que foi capaz de fazer uma peregrinação a Fátima, sempre de costas! Confesso que a ultima vez que me comovi assim com um Brasileiro a fazer coisas de costas, foi a ver um vídeo do Alexandre Frota.

Enfim, vou postando. A não ser que me saia o euromilhões…

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Mensagem ao Sôr Bin Laden

... sim, porque ele visita este blog.

Senhor Bin Laden (seu mauzão!), porque é que os Muçulmanos maus nos andam a fazer isto? Nós não lhes fizemos nada disto! Não os atingimos em arranha-céus, estações de comboios, ou metropolitanos. Se tirarmos umas dezenas de palácios presidenciais, o máximo que fizemos com os nossos bombardeamentos foi mexer umas pedras e umas covas, de um lado para o outro.
Pense bem antes de alguma vez atacar o nosso país. Sei bem que o nosso ex-ex-primeiro ministro, Durão Barroso, deu um empurrão para mais uma guerra que o Ocidente vos fez. Mas ele não fez isso em nosso nome, fê-lo para benefício próprio, como aliás tudo o que fez na sua carreira. Provavelmente terá feito muito mal ao mundo Árabe, mas acredite que nos fez pior a nós.
Temos cá muita coisa bonita (obviamente, já não estou a falar do senhor Barroso), muita paisagem, muitos monumentos. Mas também temos o estádio de Alvalade, a Wanda Stuart, a TVI. Já sofremos que chegue, não?
Além disso, não saímos a ganhar com nada disto. Antes pelo contrário, os nossos combustíveis estão cada vez mais caros!
Obviamente, tudo isto tem uma causa muito profunda, que qualquer pessoa mais informada é capaz de discernir: o senhor está com uma depressão.
Eu percebo. Vive encafuado numa zona do planeta que faz o Gerês parecer uma discoteca ao sábado à noite. Chefia homens que, como se percebe pelas metafóricas rajadas de metralhadora que tanto disparam para o ar, são rudes e mal formados. As noções de gosto e beleza do seu povo são de fazer arrepiar a nossa Ágata.
Era capaz de lhe recomendar umas férias nas nossas praias, mas o nosso povo é mais ou menos como o seu, com a desvantagem que o nosso não se tapa todo com túnicas. E como as coisas andam cá, se calhar o senhor ainda ficava mais deprimido…
Tente relaxar. Antes de planear o próximo atentado terrorista, tome um banho de imersão. Arranje uma "chaise longue" lá para a sua tenda, deite-se nela e fume o que sobrou dos nossos bombardeamentos no Afeganistão, enquanto vê reposições dos “Malucos do Riso”. Vai ver que quando der por ela, vai estar tão bem disposto e relaxado, que nem a Manuela Moura Guedes será capaz de o irritar.

Passe bem

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O cavalo Lusitano

«Há hoje nas sociedades cultas um tom geral de bom gosto, de ironia, de fino senso, que põem bem depressa no seu lugar os fanfarrões da sabedoria, do milhão ou do músculo.»
Eça de Queiroz, «Notas Contemporâneas»

Em Portugal, regra geral, quanto mais cavalos tem um motor mais cavalgadura é o tipo que vai ao volante. Muitos portugueses, quando entram para um carro, transformam-se em autênticos cavalos. Numa ânsia desaustinada de chegar primeiro à estrebaria e de passar à frente dos «burros» - que andam devagar só para os provocar e são a razão de o país não andar para a frente - perdem completamente as estribeiras. Ao contrário da «mesa» ou do «jogo», nada faz estalar tanto verniz como a rede rodoviária nacional.

Estes sôfregos equídeos de crânios oblongos e pouco inteligentes, que abancam as espáduas nos assentos dianteiros dos nossos popós, proliferam no panorama selecto da fauna portuguesa. Encontram-se aos molhos, aos magotes e às «resmas» por onde quer que se ande de carro. Hoje em dia é praticamente impossível viajar pelas estradas do nosso país sem nos cruzarmos com um destes exemplares quadrúpedes de quatro rodas.

Embora muito divulgada nos dias que correm, estas bestas endémicas nem sempre foram cavalos de corrida. Durante muito, muito tempo, andaram com a «viola metida no saco» na parte de trás das Macal Minarelli e SS Sach. Por vezes também se deslocavam na camioneta da fruta, bem acolchoada que era de banana Chiquita mais a gama completa de maçãs - desde a Starking à Reineta. A maior parte, essa, simplesmente não se deslocava. Não havia «carcanhol». Portugal era um país atrasado, com gente pobre de mentalidade simples e honesta. Sem posses para grandes devaneios, agarravam na Famel e iam para a tasca «laurear a pevide» por entre um copo de cerveja e um pires de tremoços. Reinavam os Carapaus-de-Corrida. Os famosos «Ó pá, tás armado em carapau-de-corrida, ou quê?», «Vê lá mas é se não queres levar uma solha!»

Mais tarde, aos Carapaus-de-Corrida, sucederam os Cavalos Lusitanos, seus primogénitos e legítimos descendentes, por linha recta.

Inserido numa Europa endinheirada, o país acercou-se das novas oportunidades que se avizinhavam e ultrapassou as suas fronteiras naturais. Com a entrada para a CEE e o advento do cavaquismo, Portugal, que era um dos países mais pobres da Europa, começou a amealhar riqueza. No bolso, outrora coçado e com farelos da parca merenda, começavam a entrar fundos estruturais e iam surgindo, a pouco e pouco, novas oportunidades que possibilitavam ao Carapau-de-Corrida adquirir os carros a crédito bonificado, a «leasing» e a prestações altamente favoráveis. Começava a haver dinheiro para isto e para aquilo e, mesmo que não houvesse, havia sempre a praga dos concursos a oferecer automóveis a torto e a direito. Mesmo quem não quisesse arriscava-se a ganhar um magnífico automóvel. Num ápice, a rede rodoviária do país vibrava num formigueiro inusitado de Unos, Visas, Super-Cincos, Corsas e tantos outros.

Só que em vez de pausada e vagarosa, como convinha, esta metamorfose de Carapau para Cavalo foi súbita e imprevisível: adormecendo aconchegado na sua latinha Bom Petisco, o nosso Carapau acordou desorientado, no meio de um estábulo, a defecar aglomerado de celulose metro e meio acima do solo. Como num filme de terror, as transformações foram abruptas e arrepiantes, com cascos a brotar do dorso escamoso enquanto o pescoço se esticava todo, todinho, até chegar ao alforge da palha. Nascia assim o Cavalo Lusitano. Garboso, de pelo escovado e crina ao sol, ele é o rei do asfalto.

Mas esta mudança repentina trouxe sequelas inesperadas. Ora - tal como o australopitecos viu o seu polegar tornar-se oponível - à modificação física seguiu-se a evolução do intelecto, que tinha agora de pensar o que fazer dos objectos apreendidos. No caso do Carapau-de-Corrida, à súbita evolução locomotora não correspondeu nenhuma evolução cerebral. Pelo contrário, o desfasamento entre a nova realidade física era acompanhado por uma mentalidade saloia e provinciana, que confundia o popó com a pilinha, como se este fosse o natural prolongamento da sua virilidade.

E estas bestas não são de carga. Não se pense nisso. Nem por muitas «comerciais» que selvaticamente conduzam. Hoje são, isso sim, de corrida. E correm. Não trotam. Galopam a bom galopar. E depois matam-se - pior, matam. Basta ver as estatísticas: por ano morrem (foram mortas ou «suicidaram-se») milhares de pessoas pessoas. De um numero quase incontável de acidentes sobrevivem estropiadas ou traumatizados para o resto da vida milhares de feridos graves. É simplesmente assustador. É escandaloso. Escabroso. É uma vergonha nacional!

Portugal é dos primeiros países do mundo em desastres de viação. É de Terceiro Mundo. Em Portugal andam criminosos à solta nas ruas! Essa é que é essa. Essa é que é a verdade. E não andam com «naifas» nem Magnuns nem Smith's & Wesson. Não. Andam com Bêemes e Alfas apontados às nossas cabeças. Às nossas famílias. Aos nossos filhos. São gente estúpida e assassina que mete o casco no acelerador e vai por aí fora como se a estrada fosse mais deles do que dos outros, pior, como se fosse tudo deles, só parando em cascos-de-rolha. Não respeitando nada nem ninguém, andam prego a fundo, de beiças ao vento, galgando indiscriminadamente sinais de Stop, traços contínuos e «rails» de protecção.

A sua proeminente e desenvolvida arcada supraciliar não os deixa ver que um carro é só um carro. Mesmo que se goste muito de carros. Um carro não é sinónimo de nada. Não reflecte posição social, não significa educação, não impõe respeito, não transmite sucesso (pois é!) e não serve para engatar ninguém. Pelo menos ninguém que valha a pena.

Enfim, é apenas um carro. Um microondas com rodas. Mesmo que seja o último modelo com ondas ainda mais micro que as anteriores. Não passa de um mero objecto.

O carro é um fim e não um meio. Para o Cavalo Lusitano, o carro está umbilicalmente ligado ao ego. Se a correia da ventoinha faz barulhos esquisitos, fica-se deprimido em casa com complexos de inferioridade. Se dá duzentos e trinta na auto-estrada, fica-se com a impressão que somos o James Bond, até ao momento em que se olha para as chuteiras penduradas no retrovisor. Come-se de boca aberta com a cabeça enfiada no arrozinho de grelos, mas se um pombo defecou no capot, vamos logo, com tremuras e suores frios, acudir com um paninho de camurça. Se os filhos choram e guincham, dizem logo que é fita. Se é o carro a fazer fita e não quer pegar, afirmam consternados que deve ser o alternador. Lançam-se raspadinhas pela janela fora sem qualquer espécie de pudor, mas, por outro lado, passam-se tardes inteiras de domingo a polir «tabliers» e a raspar as jantes (que são último modelo e de liga leve). A viatura (como galinaceamente gostam de dizer) é para acelerar e para se mostrar, e se não há muito para mostrar («praí» uma lata velha como um Carocha ou um Fiat 127) ou, se por modéstia ou comedimento não se mostra muito (como é apanágio de gente bem educada), não se vale nada. É assim.

Numa terra onde os costumes são brandos, é estranho verificar que ninguém abranda. Levando tudo à frente e vendo a vida a passar à frente dos olhos, assim se vai andando, estupidamente, a «duzentos à hora».

Citando António Manuel Ribeiro dos UHF:
«Agora, agora, agora, agora tu és um cavalo de corrida Agora, agora, agora, agora tu és um cavalo de corrida»

E assim se vai correndo, criminosamente, neste hipódromo à beira-mar plantado...

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Eles Andem Aí!

Fui ver o novo filme do Spielberg - War of the Worlds. Até gostei mas mais uma vez os Aliens invadiram a Terra mas só há imagens dos Estados Unidos.
Para quando um filme em que os ET's entrem em Portugal e destruam tudo, em especial a Assembleia da República?
Até a Estátua da Liberdade já deve estar farta de aparecer nestes filmes. Depois da sua participação no planeta dos macacos a Estátua disse "e se fossem chatear o Marquês de Pombal ou o Cristo Rei?"

Mas esta história que temos vizinhos intergaláticos que nos vêm visitar não me convence.
É certo que existem 140 biliões de galáxias cada uma com largas centenas de biliões de estrelas o que nos pode levar a pensar que há mais civilizações no Universo, se calhar até inteligentes (coisa que por cá...). Só que o vizinho mais próximo do nosso Sistema Solar encontra-se a uns miseros 4,3 anos luz (um saltinho em termos galáticos) não deixa de ser uma viagem com a duração de cerca de 25 mil anos.
Claro, é possível que haja alieníginas que viajem biliões de quilómetros durante milhares de anos para se divertirem a fazer circulos em campos de trigo ou para pregarem um susto dos diabos a um camionista que siga numa estrada isolada, ao fim e ao cabo eles também devem ter adolescentes, mas nada disto me parece provável.

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Opinion Makers

Hoje em dia, uma das coisas mais importantes, para além de dinheiro, saúde, é ter uma opinião.

Pode ser uma opinião que não chateie ninguém (tipo presidente da republica), ou uma que não deixe de chatear ninguém (tipo João Jardim ou Luís Delgado), mas tem de existir.

O problema é que uma opinião tem de ser fundamentada, ou será tão válida quanto o partido de Manuel Monteiro.
Isto implica um conhecimento aceitável da matéria em discussão, logo, disponibilidade e capacidade mentais para ler algo mais do que o “24 Horas”, ou as brochuras do Lidl. Felizmente, em Portugal, há quem as tenha. Os escassos noventa e oito por cento da população Portuguesa que não as têm, fazem recurso dessas figuras tão em voga nos dias de hoje – os opinion makers, em Português, formadores de opinião.

Um formador de opinião, é isso mesmo, uma pessoa que forma uma determinada opinião sobre algo. Tem competências, capacidade, e crédito para o fazer, com toda a legitimidade. Mas não faz mais do que isso – formar uma opinião. Não é uma verdade universal - não é como afirmar que o Abrunhosa devia arranjar um cantor – é um simples “acho que sim”/”acho que não”, “concordo/discordo”, ou voltando ao exemplo dado, “acho que o Abrunhosa é estrábico”.

Mas o opinion maker é essencial. O que seria do Einstein, se logo a seguir a ter chegado ao E=MC^2 ou à Teoria da Relatividade não estivesse lá alguém a dizer “isso é do caraças”? Quantas vezes teriamos ainda de ver o Vidas Reais na televisão, se ninguém tivesse opinião sobre aquilo?

Só não percebo como ainda ninguém se lembrou de explorar mais a fundo este ramo de actividade. Como é que num país em que já há tantos homens a fazer depilação, ainda não existe a venda de opiniões ao público? Quem não gostava de poder ir a uma loja comprar uma opinião sobre, por exemplo, a rede de esgotos do Marco de Canaveses?

“Lamento, mas essa opinião está esgotada. Temos uma parecida, que é sobre o Tino de Rans…”
“Hmm…não, obrigado, estava a pensar numa coisa mais evoluída…”
“O porco Alentejano?”
“Mais ainda”
“Hmm…diga-me uma coisa, está à procura de uma opinião do contra, ou a favor de algo?”
“Pois. É para usar num jantar com a família da minha mulher…”
“Então do contra! Sim senhor, tenho aqui uma coisa óptima, que é o pack Miguel Sousa Tavares. A família da sua mulher gosta do Santana Lopes?”
“Adora!”
“Então é esta mesmo!”

Mas falando de comentadores um nome salta logo à vista - Marcelo Rebelo de Sousa.
Ouvi-lo a opinar sobre tudo, desde as nossas taxas de juro, até à papada do Freitas do Amaral é como ir à missa. Pelo menos é o que de mais parecido há, na televisão Portuguesa, com a parte do sermão.

Logo à partida, uma pergunta: qual o calibre da arma que apontam à cabeça daquela desgraçada, para a conseguirem obrigar a estar ali, submissa, a dar deixas ao senhor padre… perdão Marcelo? Será chantagem? - “Ou isto ou os Batanetes!!”; deixá-la-ão, ao menos, comer umas hóstias?
A RTP devia ter a coragem de assumir a coisa a cem por cento. A cortina abria-se, e o entertainer aparecia isolado, sentado, com um placar publicitário atrás, género conferência de imprensa, usando um boné em que se lia “Salsichas Isidoro”, olhando a câmara de frente.
“Boa noite, Portugal, hoje vou falar sobre a nossa situação económica, o regime fiscal da Lapónia, e a melhor forma de conservar uma sopa de cação”
Ou então, se a estação estatal quisesse acompanhar os novos tempos podia apresentar os sermões num formato ainda mais ousado: Professor Marcelo ao vivo, em frente a duas mil pessoas que o interrompessem com palmas a cada vinte segundos, debitando opiniões básicas sobre os mais variados assuntos da nossa actualidade (o défice, os incêndios, a papada de Freitas do Amaral).

Não ponho em dúvida que Marcelo Rebelo de Sousa é um homem inteligente e eloquente, com uma cultura geral fora de série, que ainda por cima parece conseguir bronzear-se com facilidade. Mas que valor terão os seus juízos? É que ele não tem ninguém a corrigi-lo ou a contradizê-lo, e sozinho em campo, até o Fyssas deve parecer um craque…
Obviamente, o publico alvo de uma televisão generalista, e também algumas pessoas, preferem este formato, mais calmo e consensual, a bélicos debates, com os intervenientes a desmontarem-se mutuamente. Já eu, tenho de ser sincero, prefiro de longe um bitoque.

Treinadores de bancada, em Portugal, há aos pontapés, não têm é todos tempo de antena. Isso está reservado a alguns iluminados, como o professor Marcelo, o Gabriel Alves, o Tino de Rans…

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