sábado, setembro 24, 2005

Amor Impossível

(Para um título mais piroso do que este, tínhamos de ressuscitar a Cristina Caras Lindas).

Todos nós, que queremos viver num país governado por pessoas decentes, à frente de um estado que funcione, mas sem ter de emigrar, sabemos o que é um amor impossível.

Não há nada que doa mais, e que, por consequência, nos faça sentir mais vivos (exceptuando, talvez, um forte impacto nos órgão genitais). É uma dor forte, constante, um aperto cá dentro, tipo um ananás que comemos, sem o termos descascado, ou cortado às fatias. É falta de ar. É tempo que passa mais devagar. Não é uma música dos UHF, porque isso não é mesmo nada.

E isto para falar do quê?

Do estado de desânimo, de depressão colectiva dos Portugueses. O futuro não é brilhante, a luz não está ao fundo do túnel, ‘prá’ frente não é o caminho. O que de mais entusiasta se consegue é um encolher de ombros, acompanhado da eventual escarradela.

Está tudo preso por cordéis, com partes que não encaixam, a cosmética está a resultar cada vez menos, a ilusão desvanece. Mas deixemos a Lili Caneças, e voltemos ao nosso assunto.

O nosso amor por Portugal é impossível.

Logo à partida, ele não no-lo retribui. Bem podemos fazer o nosso melhor – pagarmos os impostos todos, votar a tempo e horas e nunca no Manuel Monteiro, deitar o lixo nos caixotes, desconfiar da masculinidade do Marco Paulo – que vamos continuar a ter Emanueis, sacos azuis, Zézés Camarinhas, Big brothers, Isaltinos Morais, todos de mãos dadas, a entoar as partes que conhecem do hino Nacional, entre arrotos de Lagosta.
Mas mesmo que o nosso amor pela pátria fosse retribuído, continuaria a não ser possível. Viver num país de que gostamos e com o qual estamos contentes está-nos tanto nos genes como a capacidade de cumprir o código da estrada ou falar baixo em publico.

Temo pelo dia em que isto esteja tão complicado que os verdadeiros Portugueses, aqueles que dão o nome à raça, comecem a desaparecer. Isto pode parecer estranho, mas acho que ainda hei-de ter saudades dos piqueniques à face da estrada, da musica pimba, dos palitos no canto da boca, dos Domingueiros, dos bonés pousados na moleirinha à camionista, nem que seja para sentir aquela vontade de ter um bastão de baseball na mão.

Não, espero que não. Este amor impossível eu não era capaz de aguentar.

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