Há uns célebres gauleses que sempre tiveram medo que o céu lhes caísse um dia em cima. E porquê? Porque de vez em quando há algo que faz desabar o país da revolução francesa. Algo de visceral e muito profundo. Quem conhece um pouco da história de França sabe que aquele país, que sempre foi o símbolo do progresso e da sofisticação e o centro da Europa (e do Mundo, numa perspectiva eurocentrista), tem alturas em que descamba. E daí para os banhos de sangue e a violência mais desabrida demora o mesmo que o zero aos cem de um F 40.
É o que está a acontecer mais uma vez. 30 anos depois do Maio de 68, os últimos motins graves em França, regressa a convulsão social grave à capital. Por todo o lado se escrevem crónicas e se tecem comentários sobre o que se passa. Todo o idiota que se preze tem uma teoria, incluindo eu. Assim, vou estabelecer uma tipologia das melhores opiniões que fui lendo e ouvindo por aí.
A - Há os que preferem uma solução final para os amotinados, idêntica há de um senhor de bigode ridículo que tentou dominar a Europa a meio do século passado.
B – Há os que culpam os franceses, como Vasco Pulido Valente que vai ao ponto de dizer que a França é o país mais racista e xenófobo da Europa. Embora não me pareça muito convicto. No fundo está a malhar por malhar. Está-lhe na massa do sangue. Dá-me ideia que o Vasco é do género de pessoas que buzina no trânsito mesmo quando vai sozinho por uma rua abaixo, só porque sim. Não me parece que se possa dizer que a França é mais racista e xenófoba que a Suíça, a Áustria, a Alemanha, ou a Bélgica, por exemplo. Países onde tudo poderia também ter acontecido. Aconteceu em França, porque tinha de acontecer aí. Nisso a França teve galo.
C – Há os que não têm opinião, mas acham que alguém devia fazer alguma coisa. É o pensamento mais comum dos frequentadores de festas do Jet Set.
D – Há os que desculpabilizam os tipos que incendeiam os carros, as lojas, os autocarros, os comboios, as fábricas, etc. Porquê? Porque os incendiários são vítimas do sistema. São pessoas oprimidas. Mas eu digo, também os sportinguistas se diziam oprimidos pelo sistema muito tempo e não deitaram fogo a nenhum carro de árbitro. Duas ou três pedritas ainda vá, mas fogo? Isso é vandalismo, é violência, não tem desculpa.
E – Há os que acham isto útil no sentido de uma renovação do parque automóvel francês. Pelo menos já ouvi isto da boca de certas pessoas. Julgo que o se deveriam identificar quem pensa assim. São, obviamente, indivíduos muito perigosos.
F – E há quem tenha teorias radicais, como eu, que não se perde nada em desconhecer.
Penso que o que se passa vai acabar por crescer ainda mais. A próxima grande guerra será uma guerra de pobres contra ricos. Não é religiosa, nem política, nem sequer é civilizacional. É a guerra da má distribuição da riqueza. E um rico pode ter armas, dinheiro, poder, mas tem algo que o torna imensamente frágil, tem muito a perder com uma guerra. Perde o seu estilo de vida, o seu conforto, a sua vida feliz e constantemente ensolarada, a oportunidade de gastar alegremente todo o seu dinheiro. O pobre não. Um cidadão da Somália, por exemplo, com um rendimento de vinte cinco Euros, cuja família morreu chacinada por uns quaisquer senhores da guerra, cujo os amigos morrem aos magotes de HIV e de subnutrição, ou tem hipótese de ter uma vida melhor ou só lhe resta a revolta. Não tem nada a perder.
Um dia talvez paguemos a factura por estarmos no lado confortável da barricada. Os cornetins que anunciam esse dia parecem começar a fazer ouvir-se. Mas também pode ser só o Vasco Pulido Valente a passear de carro pelas redondezas. Espero que sim. Do mal o menos.
É o que está a acontecer mais uma vez. 30 anos depois do Maio de 68, os últimos motins graves em França, regressa a convulsão social grave à capital. Por todo o lado se escrevem crónicas e se tecem comentários sobre o que se passa. Todo o idiota que se preze tem uma teoria, incluindo eu. Assim, vou estabelecer uma tipologia das melhores opiniões que fui lendo e ouvindo por aí.
A - Há os que preferem uma solução final para os amotinados, idêntica há de um senhor de bigode ridículo que tentou dominar a Europa a meio do século passado.
B – Há os que culpam os franceses, como Vasco Pulido Valente que vai ao ponto de dizer que a França é o país mais racista e xenófobo da Europa. Embora não me pareça muito convicto. No fundo está a malhar por malhar. Está-lhe na massa do sangue. Dá-me ideia que o Vasco é do género de pessoas que buzina no trânsito mesmo quando vai sozinho por uma rua abaixo, só porque sim. Não me parece que se possa dizer que a França é mais racista e xenófoba que a Suíça, a Áustria, a Alemanha, ou a Bélgica, por exemplo. Países onde tudo poderia também ter acontecido. Aconteceu em França, porque tinha de acontecer aí. Nisso a França teve galo.
C – Há os que não têm opinião, mas acham que alguém devia fazer alguma coisa. É o pensamento mais comum dos frequentadores de festas do Jet Set.
D – Há os que desculpabilizam os tipos que incendeiam os carros, as lojas, os autocarros, os comboios, as fábricas, etc. Porquê? Porque os incendiários são vítimas do sistema. São pessoas oprimidas. Mas eu digo, também os sportinguistas se diziam oprimidos pelo sistema muito tempo e não deitaram fogo a nenhum carro de árbitro. Duas ou três pedritas ainda vá, mas fogo? Isso é vandalismo, é violência, não tem desculpa.
E – Há os que acham isto útil no sentido de uma renovação do parque automóvel francês. Pelo menos já ouvi isto da boca de certas pessoas. Julgo que o se deveriam identificar quem pensa assim. São, obviamente, indivíduos muito perigosos.
F – E há quem tenha teorias radicais, como eu, que não se perde nada em desconhecer.
Penso que o que se passa vai acabar por crescer ainda mais. A próxima grande guerra será uma guerra de pobres contra ricos. Não é religiosa, nem política, nem sequer é civilizacional. É a guerra da má distribuição da riqueza. E um rico pode ter armas, dinheiro, poder, mas tem algo que o torna imensamente frágil, tem muito a perder com uma guerra. Perde o seu estilo de vida, o seu conforto, a sua vida feliz e constantemente ensolarada, a oportunidade de gastar alegremente todo o seu dinheiro. O pobre não. Um cidadão da Somália, por exemplo, com um rendimento de vinte cinco Euros, cuja família morreu chacinada por uns quaisquer senhores da guerra, cujo os amigos morrem aos magotes de HIV e de subnutrição, ou tem hipótese de ter uma vida melhor ou só lhe resta a revolta. Não tem nada a perder.
Um dia talvez paguemos a factura por estarmos no lado confortável da barricada. Os cornetins que anunciam esse dia parecem começar a fazer ouvir-se. Mas também pode ser só o Vasco Pulido Valente a passear de carro pelas redondezas. Espero que sim. Do mal o menos.
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