Decididamente viver em Portugal é uma maravilha! Ou, pelo menos, bom. Menos mau, pronto.
O país dos brandos costumes pode não ser muito emocionante, glamouroso, civilizado, desenvolvido, equilibrado, bem governado, significativo, próspero, meritório da sua herança histórica e cultural, exótico, bem urbanizado, autónomo, aberto a novas ideias, mas é um país! Ah, e tem brandos costumes.
Há coisas que por cá simplesmente não acontecem. Atentados, só à inteligência; catástrofes naturais, tirando esta ultima seca agreste e a Teresa Guilherme, só as nossas celebridades, que apesar de levarem o pedantismo a níveis tóxicos comparáveis ao urânio enriquecido, não matam; quanto ao crime, resume-se basicamente ao mundo do futebol e aos discos do Toy. Nem Sequer a gripe das aves cá chega, e não me venham falar do Ricardo.
Claro que há excepções à regra, mas não só a confirmam, como são espoliadas de qualquer relevância pela forma como por cá são abordadas. Podem aparecer autarcas acusados de abusos ou corrupção, que os Portugueses fazem a melhor coisa para apagar o caso, que é voltar a votar neles. Crimes de gangs têm a mesma visibilidade que a carreira da Lídia Franco, sendo que até já se cruzaram, com benefícios mútuos.
A seca deste ano foi devastadora, mas sempre que teve tempo de antena, foi uma seca! Os incêndios são terríveis, trágicos, mesmo na televisão dão um bom espectáculo (embora repetitivo), mas têm um péssimo timing – no verão, maior parte dos Portugueses está de férias - deviam escolher outra época.
E por isso andamos sossegados.
Temos esta terrível crise mas mais uma vez, o Português, não querendo que lá fora percebam que isto por cá é Marrocos com mais marcas de iogurtes, empenha-se em atulhar centros comerciais, feiras populares e quaisquer eventos em que se ofereçam bonés. Fá-lo contrariado, a sua inteligência e perspectiva esclarecida das sua condição sócio-antropo-económica não deixam que esqueça a terrível situação em que se encontra, mas disfarça, ri-se, berra alegremente, e muito a custo lá engole mais um garrafão de seja o que for que lhe faça vontade de comer chouriço.
Até me admira como é que as operadoras turísticas que têm como missão vender Portugal não usam esta perspectiva. Em vez das praias e campos de golfe do Algarve, experimentem vender a essência do nosso País – “Portugal, o país em que não acontece nada”.
quarta-feira, novembro 09, 2005
O Nosso Portugal
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