sábado, janeiro 28, 2006

Presidenciais

Uma jornalista durante um directo, no dia das presidenciais, disse que as eleições decorriam na normalidade, excepto num ou noutro caso. E depois descreveu um desses casos. Uma povoação do interior norte, onde os locais enfrentavam a GNR com paus e sacholas para garantir o boicote ao acto eleitoral. Ora aí está a resposta ao choque tecnológico, à contenção económica a todo o custo e à conversa oca dos políticos: uma sachola.

Adoro este país quando ele, uma vez por outra que seja, sai da sua modorra e se agita. É boçal, eu sei. Mas pior que boçalidade é a indiferença. Enfim, um pensamento que me introduz ao tema de hoje, de ontem e de amanhã, as presidenciais.

Pois é, lá conseguimos eleger mais um presidente da república, e tal como com uma prima de um amigo meu, foi logo à primeira!

Foram várias as semanas em que estas eleições nos ocuparam a televisão, a imprensa escrita, e a cabeça, como se de mais uma telenovela da Globo se tratasse – “Mário, Francisco e Manuel detestam Aníbal, mas a direita o adora…quem será que vai conquistar a presidência? E quem é esse não-sei-do-quê Pereira que anda sempre de cachecol vermelho? A seguir cenas do próximo episódio…” – isto já para não falar dos antecedentes meses jogados a tabus de fazer inveja aos três pastorinhos.

Foram também várias as ocorrências (desculpem-me o termo de policia dos subúrbios) em mais estas presidenciais, que são sempre uma roda-viva, mesmo com candidatos a poucos anos de uma algália.
Speaking of which, Mário Soares voltou a levar na cara, e não foi só daquele veterano de guerra, ele próprio a merecer uns sopapos, quanto mais não seja por andar na rua com jornais como “O crime”.
Também Manuel Alegre, que se fartou de esconder o nariz na sombra, veio “molhar a sopa”. Mas com quem Mário Soares deve estar mesmo aborrecido é com a pessoa que escolheu a sua imagem para aquela ideia do “mp3”. Bem, do mal, o menos. Não deu para o eleger, mas se por acaso Filipe La Féria viu os cartazes, Mário Soares ainda poderá ter uma carreira no teatro.

O Alegre também ficaria bem como presidente. Tem postura. Tem grandiloquência. Tem uma barba (imagino a inveja dos outros candidatos). Tem porte. Tem uma caçadeira. Tem tudo. Excepto a maioria dos votos.

Jerónimo conseguiu o grande feito de conseguir chegar ao dia das eleições sem ter de consultar um otorrino. Está mais calmo, mais controlado, com maior capacidade de exteriorizar aquilo que pretende fazer passar por ideias. Parece quase um político.

Louçã, mais uma vez, foi o grande paladino das causas perdidas. A sua mensagem é interessada, infraestrutural e cívica, mas como quem vota ainda são os Portugueses…

Que escolheram para seu presidente o homem que faz Ramalho Eanes parecer o apresentador do “Big show SIC”. Firme e hirto, de convicções fortes, sejam lá elas quais forem, até na hora de se sentar no tejadilho do carro. O homem que provou que todo o Português pode ser presidente da republica, mesmo que se chame Aníbal. E começou bem. Logo na noite de vitória, deixou-se filmar a janela de sua casa (vá lá, não era a da casa de banho), e nós todos à espera que ele falasse em directo do confessionário com a Manuela Moura Guedes – “A casa do Aníbal”!!!

Sobra Garcia Pereira (aquele do cachecol), deve ter em mim a primeira pessoa a dedicar-lhe um parágrafo inteiro mas falo dele pois acho que se deve dar espaço a todos. Por isso, parabéns Garcia pelo teu corte de cabelo simétrico e aprumado. Pronto, já falei.



Até ao final do Obikwellano governo de Santana Lopes, todos julgávamos ser meramente simbólica a figura de um presidente da república de Portugal. De repente, com a dissolução levada a cabo por Jorge Sampaio, todos ficámos a saber que um presidente não serve só para cortar umas fitas, embirrar com uns decretos mais ou menos escolhidos aleatoriamente e fazer umas visitas a centros de saúde. Tem também poderes para além do de conseguir ser fotografado ao lado do Bono.

Mas todos nós, nascidos em famílias tradicionais Portuguesas, sabemos bem quem verdadeiramente manda no nosso país. Não é o primeiro-ministro, nem o Presidente da Republica. São as mães deles, essa é que é essa!

“Então, filho, já decidiste?...O quê??? Nem penses! Disseste que não ias subir os impostos, agora não sobes! O meu filho não é mentiroso! “
“Mas ó mãe, a política é mesmo assim…”
“Pois, e quem é que atura o Sr. Manuel da Mercearia, amanhã?”
“Ó mãe, caramba…”
“Já disse!”
(suspiro)
“E não te atrases hoje, aí nessa coisa do orçamento do não-sei-quê, que já pus a sopa a ferver…”


E agora preparem-se que esse thriller que se chama “Portugal” segue dentro de momentos.

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