(Para um título mais piroso do que este, tínhamos de ressuscitar a Cristina Caras Lindas).
Todos nós, que queremos viver num país governado por pessoas decentes, à frente de um estado que funcione, mas sem ter de emigrar, sabemos o que é um amor impossível.
Não há nada que doa mais, e que, por consequência, nos faça sentir mais vivos (exceptuando, talvez, um forte impacto nos órgão genitais). É uma dor forte, constante, um aperto cá dentro, tipo um ananás que comemos, sem o termos descascado, ou cortado às fatias. É falta de ar. É tempo que passa mais devagar. Não é uma música dos UHF, porque isso não é mesmo nada.
E isto para falar do quê?
Do estado de desânimo, de depressão colectiva dos Portugueses. O futuro não é brilhante, a luz não está ao fundo do túnel, ‘prá’ frente não é o caminho. O que de mais entusiasta se consegue é um encolher de ombros, acompanhado da eventual escarradela.
Está tudo preso por cordéis, com partes que não encaixam, a cosmética está a resultar cada vez menos, a ilusão desvanece. Mas deixemos a Lili Caneças, e voltemos ao nosso assunto.
O nosso amor por Portugal é impossível.
Logo à partida, ele não no-lo retribui. Bem podemos fazer o nosso melhor – pagarmos os impostos todos, votar a tempo e horas e nunca no Manuel Monteiro, deitar o lixo nos caixotes, desconfiar da masculinidade do Marco Paulo – que vamos continuar a ter Emanueis, sacos azuis, Zézés Camarinhas, Big brothers, Isaltinos Morais, todos de mãos dadas, a entoar as partes que conhecem do hino Nacional, entre arrotos de Lagosta.
Mas mesmo que o nosso amor pela pátria fosse retribuído, continuaria a não ser possível. Viver num país de que gostamos e com o qual estamos contentes está-nos tanto nos genes como a capacidade de cumprir o código da estrada ou falar baixo em publico.
Temo pelo dia em que isto esteja tão complicado que os verdadeiros Portugueses, aqueles que dão o nome à raça, comecem a desaparecer. Isto pode parecer estranho, mas acho que ainda hei-de ter saudades dos piqueniques à face da estrada, da musica pimba, dos palitos no canto da boca, dos Domingueiros, dos bonés pousados na moleirinha à camionista, nem que seja para sentir aquela vontade de ter um bastão de baseball na mão.
Não, espero que não. Este amor impossível eu não era capaz de aguentar.
sábado, setembro 24, 2005
Amor Impossível
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