quinta-feira, outubro 27, 2005

Baleias Piloto

Continuo com os posts “National Geographic” – depois dos “pássaros constipados” e dos “leões mansos”, escolho este tema – pode ser que na próxima escreva aqui qualquer coisa sobre o ganso-patola, ou esse outro animal tão fascinante, o adepto de futebol.

Mas…o que é que as baleias piloto, que se atiram sobre a costa Australiana para morrer sabem que nós não sabemos? Estará o nosso mundo condenado? Será a gripe das aves o sinal do fim? Ou este já tinha chegado com o “Big show sic”?

São cada vez mais evidentes os sinais de desgaste do nosso planeta: temperaturas a subir, furacões, tsunamis, epidemias, Felgueiras. Tudo o que é natureza não humana faz-nos sentir tão bem-vindos na Terra como o Marques Mendes em Gondomar.

O que acontecerá quando atingirmos finalmente o ponto de saturação?

Se realmente existir um Deus que nos tenha eleito como raça especial, imagino que soluções não Lhe faltem: pode criar um planeta igualzinho ao nosso (talvez até melhor, sem algumas das imperfeições deste, como os terramotos, ou a praia de Matosinhos) mesmo aqui ao lado, uma espécie de planeta germinado; ou então, se estiver numa daquelas semanas em que não Lhe apeteça trabalhar até Domingo, pode simplesmente fazer um reboot à Terra, pôr os nossos esgotados recursos naturais outra vez a níveis aceitáveis – água, ozono, petróleo, a Cinha Jardim, etc.

Se tivermos de nos desenrascar sozinhos, vai ser um bocado mais difícil. A exploração espacial ainda está um bocadito atrasada. Ainda há muita gente a pagar as propriedades que tem por cá. Embalar bibelots para uma mudança interplanetária deve ser um pesadelo.

A culpa é nossa, só nossa. Tivemos um planeta fresquinho, a estalar de novo. Tínhamos todo o tipo de animais, vegetais, minerais, com a vantagem de não termos o Toy.
Mas a partir do momento em que um dos macacos que nos ante passou (imagino-o como o Tino de Rans, menos o boné) inventou a linguagem, o nosso destino ficou traçado. Logo viria o fogo, a religião, a roda, e por aí fora até à energia nuclear, e as telenovelas.

Claro que também há a ligeira hipótese de eu estar a exagerar. Se calhar as baleias piloto são é estúpidas – enganaram-se no horário das marés, ou não percebem que ainda têm de passar por uma evolução morfológica de alguns milhões de anos, antes de poderem ir beber uma Super Bock a uma esplanada.

Antes elas do que nós.

terça-feira, outubro 25, 2005

Dom Dias de La Mancha

O escudeiro do banco do leão, José Peseiro, caiu finalmente de seu burro abaixo e, na queda, arrastou consigo o seu Senhor. A analogia com a obra-prima, “Dom Quixote de La Mancha”, é grande. Dias da Cunha via gigantes, em vez de moinhos de vento, por todo o lado. Chamava-lhes “Sistema”. Com eles esgrimia uma luta digna de um nobre cavaleiro, mas punha quase todo o país a rir. Menos os sportinguistas, claro. Um nobre quixotesco suscita simpatia, admiração, mas nesta “Cosa Nostra” que é o futebol nacional, o que faz mais é papel de urso. E a um leão pede-se, acima de tudo que não faça papel de outro animal, ou seja, pede-se dignidade.

Por outro lado a Peseiro assenta na perfeição o papel de Sancho Pança. Pachorrento, espertalhuças e lambão, lá ia fazendo orelhas moucas à borrasca, apoiado pelo seu lunático Fidalgo, até se tornar absolutamente insuportável.

Soaram as trombetas no reino de Alvalade. Dom Dias de La Mancha e seu fiel escudeiro foram-se. Demorou até que acabasse a novela, aliás, tal como a grandiosa obra de Miguel de Cervantes, que é colossal em brilhantismo, mas também em tamanho. Surgiu novo cavaleiro. Soares Franco, de sua graça. Um cavaleiro de ar meio betinho, o que normalmente é bem visto por aquelas bandas. Para seu escudeiro foi buscar Paulo Bento, um bravo que até então treinava os potros nos arrabaldes e nas cavalariças. É muito novo. Aliás, julgo que ainda corre mais do que grande parte da equipa. E tenho a certeza que corre muito mais que o Polga. O que também não é muito difícil.

Tem carisma, embora use risco ao meio.
E tem uma estrelinha de sorte. O que se pode concluir do seu passado vencedor: campeão como jogador (Sporting), vencedor de várias taças (Sporting e Benfica), campeão como treinador nos juniores (Sporting).

E a prova final disso é o empate de ontem, já depois da hora. Com Peseiro, um golo depois da hora seria sempre, para o adversário (excepto Alkmaar).

Resta-me esperar para ver se o Sporting com este treinador vai de Bento em popa. E que o Júlio Isidro me desculpe por estar aqui a tentar usurpar o seu intocável título de Rei do Trocadilho Baratucho.

quinta-feira, outubro 20, 2005

A Gripe das Aves

Pela segunda vez este ano, aproveitaram uma vitória benfiquista para suavizar más notícias a dar ao País. Há uns meses, enfiaram pelo meio da alegria colectiva de 6 milhões de Benfiquistas (dos quais mais de 95 por cento preferem não ser sócios) que festejavam o título, os aumentos de impostos. Na semana passada, ainda estavam os adeptos do Éssélebê a festejar aquelas duas cabeçadas, quando se deixou escapar a terrível notícia da gripe das aves. E já não me lembro o que é que o Benfica ganhou no dia das autárquicas…

No meio disto tudo, quem se estão a rir são os vegetarianos. Isto não está fácil para quem se alimenta de animais. O colesterol, as vacas loucas, a gripe das aves. Só falta os bichos começarem a explodir-nos no prato. E porque é que nos sujeitamos a isto tudo? Porque temos esta mania estúpida de preferir comida com sabor. Recusamo-nos a ter os hábitos alimentares de um grilo. Não queremos ter o físico de um toxicodependente na terceira directa seguida no festival do Sudoeste.
Temo a próxima grande vitória do Benfica, invariavelmente usada para suavizar más notícias para os Portugueses. O que vale é que, seguindo o padrão dos últimos anos, esta não deverá acontecer antes do próximo sucesso dos Delfins.

domingo, outubro 16, 2005

Autárquicas

Eu sei que isto vem com uma semana de atraso, mas afinal estamos em Portugal não é?
O que é que os eleitores de Gondomar, Oeiras, e sobretudo Felgueiras fazem para ocupar os tempos livres? Ler jornais, ouvir rádio ou ver televisão não é de certeza. Alguém lhes diga que os presidentes de câmara que elegeram são suspeitos de crimes graves. E que a Amália morreu…

quinta-feira, outubro 06, 2005

A Escolha do Povo

Não há nada como umas eleições para mostrar como verdadeiramente funciona a democracia, essa maravilhosa herança da civilização Grega, a par de outras, como a Filosofia ou a homossexualidade.

Eleições: No meio, o poder; de um lado, quem o quer; do outro, quem o dá – venha o diabo e escolha. Ou, no caso em caso, o povo. E como é que isto é feito? Muito simbolicamente, com uma cruz num ‘códradinho’.


Mas as coisas não são tão simples como parecem.
O nosso povo não é parvo, não entrega os votos de mão beijada. Precisa de sentir que quem lhe pede o voto o merece, que tem ideias, que tem um projecto. E de um boné.

Para melhor formar o seu julgamento, comparece em força aos comícios políticos, esse espaço privilegiado para a difusão de ideais políticos e caldos verdes. Vai sempre com a intenção de ouvir propostas, ficar a conhecer estratégias, enfim, formar uma opinião, mas normalmente distrai-se tanto com o cheiro do churrasco, que quando dá por ela, já mamou tinto suficiente para o fazer rir fora de contexto.

Na rua, está sempre com atenção à passagem de caravanas. Capta qualquer subtileza: um candidato menos convencido do que diz, com menos vontade de se explicar às pessoas, menos desenrascado. Ou ainda pior, que não pegue em nenhuma criança ao colo nem se abrace a uma idosa.

A escolha é feita, as coisas correm mal, mas o povo não perde a compostura (a que ainda tinha para perder, claro). Queixa-se, critica, mas sem nomes, usa sempre um generalizante “eles” – “eles” são uns malandros, “eles” não fazem nada, “eles” gastam o nosso dinheiro, “eles” roubam – nunca personaliza. Isso seria pouco elegante, pouco educado, além de que obrigaria a decorar nomes de gente que nem sequer joga à bola.

domingo, outubro 02, 2005

Deus na Terra

Se Deus algum dia quiser descer à Terra para comunicar connosco, vai ter de o fazer num programa de televisão, ou ninguém lhe liga. Mas…que programa?

Poderá querer começar cedo, por exemplo, pelo “SIC 10 Horas”.
Senta-se, em toda a sua glória, numa bancada de contraplacado, entre uma reformada incontinente, um pato que fala e o Badaró.
Arranca o programa e arranca a música. A velhota, entusiasmada, dá uso à fralda enquanto bate palmas em “v”. Badaró acorda. Deus apercebe-se que isto, se calhar, não foi boa ideia.
Fátima Lopes, incansável, começa mais uma espectacular manhã, em que tanta coisa vai acontecer!!! E Deus que não sabia de nada…
Entra o Zé Malhoa, playback, palmas. Deus está com vontade de esganar alguém. Tenta sair, mas é apanhado a meio de um sketch, e tem que trocar piadas com o Fernando Rocha.
Blasfemou.


Decide-se, então, por um noticiário.
Faz uma aparição por detrás de um jornalista, em plena reportagem de exteriores, mas é agredido pelo emplastro, que lhe exige pagamento de direitos de autor. Deus perdoa-o, mas volta a pô-lo desdentado.
É entrevistado em estúdio pelo Rodrigo Guedes de Carvalho. Explica-lhe quem é, o que veio fazer à terra. O jornalista faz perguntas pertinentes: “Qual a origem do universo?”, “Existem outros planetas habitados?”, “É verdade aquilo que dizem das Chinesas?”. Deus recusa-se a responder, mas oferece-lhe a cura para a calvície.
Vem o intervalo, Deus tem que dar o lugar a um membro da IURD, que lhe pisca o olho. Deus transforma-o num porco, mas ninguém nota a diferença, e entrevistam-no na mesma.
Desiste.

Próxima paragem: transmissão do jogo do F C Porto, na Sport-Tv.
Deus alinha pelos azuis e brancos. Perdem na mesma.
No final do jogo, Deus dirige-se aos adeptos e revela a Sua identidade. Apupam freneticamente. Acreditam, mas não lhes chega Deus, querem o Mourinho.

Decidiu experimentar as telenovelas.
Começou por uma novela Brasileira. A meio da cena, já tinha uma amante e queria matar um tipo chamado Biri.
Experimentou uma novela Portuguesa, e pela primeira vez desde o princípio da Existência, adormeceu.

Apareceu em todos os programas do canal 2, mas não havia uma única pessoa a ver.

Entretanto, a TVI oferece-lhe um programa. Deus tem de viver fechado numa casa, com celebridades, sem se arrepender de ter criado o universo. Cinco segundos com o pseudo conde dão para ver que a prova é insuperável, mesmo para Ele.

Ultima tentativa: Deus vai ao “Herman SIC”.
Os convidados do programa acreditam todos em Deus, mas Deus, quando os vê, não acredita neles. Quem assiste ao programa também acredita em Deus, mas julgam que Ele é loiro e tem um restaurante em Alcântara.
Começa o programa.
Herman está especialmente inspirado. Deus não se impressiona. Herman diz umas coisas em Alemão. Deus pensa: “Grande merda! Experimenta o Aramaico!”. Herman canta e toca umas coisas no piano. Deus começa a ficar irritado.
Finalmente, Deus tem a sua vez.
Herman chama-o, Deus entra no set a levitar. “Que giro!”, diz o entertainer, irónico. Anjos já caíram do céu por menos, mas Deus controla-se. Senta-se com elegância e graciosidade suprema. Começam a circular boatos sobre a sua masculinidade.
Deus tem finalmente a sua oportunidade! Começa a explicar quem é, Herman engole em seco, e desafia-O para um milagre. Deus estala os dedos, entra o elenco dos Malucos do Riso, e faz um número inteligente, com piada!!! Todos estão convencidos…
Acaba o programa, Deus e Herman trocam contactos, combinam um almoço no “Café-Café”, e Deus volta para o céu.

Não mudou nada, não salvou ninguém, mas sempre teve gente a dizer-lhe “gosto muito de o ver trabalhar, senhor Deus!”.