quinta-feira, outubro 06, 2005

A Escolha do Povo

Não há nada como umas eleições para mostrar como verdadeiramente funciona a democracia, essa maravilhosa herança da civilização Grega, a par de outras, como a Filosofia ou a homossexualidade.

Eleições: No meio, o poder; de um lado, quem o quer; do outro, quem o dá – venha o diabo e escolha. Ou, no caso em caso, o povo. E como é que isto é feito? Muito simbolicamente, com uma cruz num ‘códradinho’.


Mas as coisas não são tão simples como parecem.
O nosso povo não é parvo, não entrega os votos de mão beijada. Precisa de sentir que quem lhe pede o voto o merece, que tem ideias, que tem um projecto. E de um boné.

Para melhor formar o seu julgamento, comparece em força aos comícios políticos, esse espaço privilegiado para a difusão de ideais políticos e caldos verdes. Vai sempre com a intenção de ouvir propostas, ficar a conhecer estratégias, enfim, formar uma opinião, mas normalmente distrai-se tanto com o cheiro do churrasco, que quando dá por ela, já mamou tinto suficiente para o fazer rir fora de contexto.

Na rua, está sempre com atenção à passagem de caravanas. Capta qualquer subtileza: um candidato menos convencido do que diz, com menos vontade de se explicar às pessoas, menos desenrascado. Ou ainda pior, que não pegue em nenhuma criança ao colo nem se abrace a uma idosa.

A escolha é feita, as coisas correm mal, mas o povo não perde a compostura (a que ainda tinha para perder, claro). Queixa-se, critica, mas sem nomes, usa sempre um generalizante “eles” – “eles” são uns malandros, “eles” não fazem nada, “eles” gastam o nosso dinheiro, “eles” roubam – nunca personaliza. Isso seria pouco elegante, pouco educado, além de que obrigaria a decorar nomes de gente que nem sequer joga à bola.

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