quarta-feira, dezembro 07, 2005

Valha-nos Deus

Como dizia um político a um jornalista, isto até é um bocado uma não-noticia (expressão que para quem aprecia noticiários da TVI, é uma redundância), mas mesmo assim, merece que falem nela.

Estou a referir-me a todo o alarido que está a ser feito em torno da medida governamental de mandar retirar os crucifixos que possam existir nas salas de aula Portuguesas.

Até concordo com esta decisão mas não compreendo todo o alvoroço criado à volta desta.

Será aí que se encontra a solução para a nossa taxa de insucesso escolar? Para as reivindicações dos professores? Se calhar, os famosos estudos que apontam para a necessidade do aeroporto da OTA têm uma alínea, lá no meio, tipo “Ah! E já agora, outra coisa de que também precisamos muito é de salas de aula sem crucifixos!”.

Já vi inúmeras reportagens sobre salas de aula com condições desumanas, mas confesso que neste problema gravíssimo nunca tinha reparado. Coitaditos dos nossos educandos, tão oprimidos pela terrível presença de um objecto evocativo do Cristianismo, e a única coisa de que se queixavam era de frio, fome, falta de professores, falta de electricidade e canalização, etc. Afinal, sortudos são os que nunca sequer tiveram hipótese de ir à escola! São analfabetos, mas ninguém os tentou convencer a ir à missa.

À excepção do Vaticano, da Opus Dei e outras máfias menos organizadas, todos estamos de acordo quanto à necessidade de liberdade religiosa, e nesse sentido, a ausência de símbolos religiosos é correcta.

Mas será que os crucifixos influenciam assim tanto as escolhas religiosas de putos de 6 anos? Eu passei 4 anos numa escola primária com uma cruz na parede e dei no que vê…
Também já comi alheiras e não passei a ser judeu por isso.

Se a televisões e os políticos em vez de se preocuparem tanto com as cruzes ligassem mais as outras coisas talvez fosse melhor… tirem lá o Cristo da parede (até porque ele já deve estar farto de lá estar) mas resolvam o importante.

Como se pode ver, mesmo exposta por um reles ignorante leigo como eu (modéstia à parte), esta é uma questão complexa e apaixonante, cheia de facetas e níveis de análise diferentes, que não pode ser reduzida a mera estupidez. Ou então pode, e eu é que precisava de um tema para este post.

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