quarta-feira, agosto 31, 2005

O Bom Gosto

Logo à partida, é altamente subjectivo.
Um Portuga pode preferir um sapato de pala, cujo pecado não é o ter custado 9,99 Euros, mas sim o estar acompanhado de uma lustrosa meia branca, outro pode defender que o verdadeiro bom gosto está no bibelot, exposto em cima da televisão.
O terço que cai de um retrovisor pode parecer muito bonito a um, mas outro pode achar que o colete reflector colocado no banco dianteiro já é adereço suficiente.
Bem como a meia desportiva branca com a raquete vermelha a acompanhar umas sandálias fazendo conjunto com um fato de treino roxo pode ser considerado o ideal para um passeio de domingo.
E nem todos concordam acerca de qual a musica “mais bonita” do Tony Carreira. Enfim, não é fácil…

O bom gosto impõe-se.
Cada um, como concluiu Bandura, é influenciado desde sempre pela sociedade em que está inserido. O que tem lógica, pelo menos, custa-me a crer que uma criança, ao nascer, escolha chamar-se Soraya, e prender o cabelito em puxinhos.
Assim como nenhuma criança nasce má, ninguém nasce com predilecção natural pela música (em sentido muito lato) do José Malhoa, pela política ou pelas telenovelas. Estas coisas ensinam-se, passam-se aos mais novos, impõem-se.

Mas a verdadeira tragédia está na sua transcendência. O bom gosto, em Portugal, é completamente inatingível, mais ainda do que Deus.
Como todos bem sabemos, na religião Católica seguimos uma política de Bem/Mal. Se o saldo, ao fim da vida, for favorável ao Bem o resultado liquido é o Céu, logo, Deus. É uma hipótese remota, mas existente.
Já no caso do bom gosto, nem essa luz ao fundo do túnel se vislumbra. O Português nem com a morte consegue atingir o bom gosto. Aliás, na maior parte das vezes, é mesmo quando morre que consegue distanciar-se ainda mais.
Começa logo pelo acto em si. Mal deixa de viver, vêm os eufemismos: O Português não morre – “Falece”. Para ele não há enterro – é o “funeral”.
Como se isto não bastasse, o seu nome é esparramado em jornais diários, entre o desporto e a programação televisiva. É, portanto, uma informação cujo nível de interesse está entre a última contratação da equipa de hóquei da Oliveirense, e o horário dos “Morangos com Açúcar”.
E se tiver o azar de ser uma pessoa conhecida, ainda é aplaudido no caminho para o fundo.

A mensagem de esperança é fátua. Esforçarmo-nos por atingir a perfeição? Não! Exactamente o contrário! Esforçarmo-nos o menos possível! Pois se quanto mais nos esforçamos, pior é…

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